quarta-feira, 4 de julho de 2007

A menina e o mar

Com pouco mais de 11 anos, tinha tudo que uma garota da sua idade gostaria. Brinquedos e roupas caros e estudava em uma das melhores escolas.

Era filha única e seus pais trabalhavam muito, quase não ficavam em casa. Quando ela acordava, eles já tinham ido trabalhar. Quando eles chegavam do trabalho, ela já estava na cama.
Na escola, como era boa aluna e quieta, as outras crianças rejeitavam-na.
Todos os dias quando chegava, antes mesmo de tomar banho e almoçar, ia para a varanda. Ficava alí, olhando o mar por uma meia hora. Contava à ele seus segredos e angústias e ouvia atentamente, os conselhos devolvidos com o quebrar das ondas.
Ela sabia que ele, o mar, a escutava sem pressa. Estava alí para quando ela precisasse, talvez até bravo e agitado, mas estava! Era seu único amigo.
Em um raro fim de semana que seus pais estavam em casa, pediu ao pai que a levasse à praia pra que pudesse nadar um pouquinho, mas, ele disse que teria de revisar uns contratos. Pediu para que deixassem para o sábado seguinte. Ela assentiu, mesmo sabendo que, provavelmente, ele arrumaria outra desculpa.
Num outro dia, enquanto conversava com o mar, uma das moças que trabalhavam na casa, se aproximou perguntando o que ela estava fazendo. A menina respondeu que conversava com seu amigo, o mar. A empregada sentiu um nó na garganta. Teve pena. Decidiu então, que conversaria com os pais dela quando chegassem mais tarde. Assim o fez, mas eles não lhe deram muita trela. Pediram que fosse logo ao assunto, pois estavam cansados e precisavam dormir. Quando souberam do que se tratava, com ar de descaso, disseram que era tudo muito normal, que era coisa da idade e que logo, ela arrumaria muitos amigos e até um namoradinho.
O que eles não sabiam, é que ela estava acordada, e acabou ouvindo tudo.
A menina ficou triste. Queria entender, como os próprios pais, não sabiam nada sobre seus sentimentos.
Na manhã seguinte, ainda clareando, os pais foram acordados com os berros da campainha. Era o porteiro. Ele vinha avisar que sua filha tinha morrido afogada.
Eles não podiam acreditar em tamanha besteira, já que, a menina estava dormindo em seu quarto. Foram conferir e, avistaram o vazio sobre a cama, havia apenas um bilhete que dizia: "Fui dormir com o único que me conhece e entende de verdade, o mar"
Os dois se olharam e caíram em lágrimas.
A empregada, que a essa altura já estava no quarto com eles, se perguntou se um dia eles se perdoariam.

2 comentários:

Val disse...

Grande Dani!Muito bom o post, muito bom texto amiga!
Mas me senti muito triste no final...
Ps:Engraçado, estava eu hj tb a escrever sobre o mar... nós estamos sempre em sintonia. *rs*
Te amo!

Paulo disse...

Nossa! Não vou conseguir colocar em palavras o quanto gostei desse texto!
Lindo, profundo. E triste. Mas não uma tristeza simplista. É uma tristeza daquelas profundas, que te fazem refletir. Fica aquele gostinho amargo na boca.

Muito bem escrito!

Beijos!