terça-feira, 22 de maio de 2007

Descaso humano

Todos os dias fazia o mesmo caminho para casa. Hoje, porém, algo incomodava-a. Não encontrava aquele menino. Um menino de mais ou menos 9 anos, mulato, de pés no chão que vestia sempre uma camiseta, completamente furada, que lhe batia nas canelas. Era um menino alegre, apesar das condições em que vivia. Sabe-se lá se tinha mãe. Estava sempre sozinho. Dormia ali, no banco da pracinha. Aquela praça era sua casa e todos que moravam e trabalhavam ao redor dela, seus vizinhos.
Sempre que ela passava por ele, acenava com a cabeça e sorria timidamente, enquanto ele respondia com um sorriso, que parecia carregar um mundo inteiro, de tão grande. Nunca trocaram uma palavra. Ela sentiu, por inúmeras vezes, vontade de lhe falar e puxar as orelhas quando o via cheirando cola. Mas nunca o fez.
Onde estaria hoje aquele sorriso? Já estava acostumada com ele. Procurou pelos arredores e nada! Perguntou à um rapaz que trabalhava no bar da esquina se sabia de algo. Foi então, que se deu conta. De madrugada, um bando de moleques foram à praça na intenção de se divertir as custas dele. Acordaram o podre menino e começaram a provoca-lo. Ele tentou fugir, mas os outros eram maiores...
Ela saiu do bar sem nem ouvir o final da história. Podia imaginar.
Subiu as escadas da praça. Avistou, sobre o banco onde o menino dormia, um cobertor cheio de retalhos e ao lado, uma caixa, dessas de sapato, com uma garrafa cheia de cola, algumas moedas e outras poucas quinquilharias.
Olhou a sua volta. Todos os comerciantes trabalhavam freneticamente. Algumas pessoas conversavam. No ponto final de uma linha de ônibus, motoristas e trocadores jogavam damas. Alguns aposentados jogavam seu sagrado buraco. Tudo exatamente igual aos outros dias. Exceto pela ausência do menino sorridente. Mas, quem se importa? Naquele instante, sentiu vergonha, não só de si, mas de toda a raça humana. Essa gente que, cada vez menos, enxerga o outro.

2 comentários:

Val disse...

Oi amiga!
Que bom ler um post como esse, digo isso pq fatos assim servem,ao menos, de exemplo para o que deixamos de fazer pelo próximo. Os amigos dizem que eu me cobro demais, mas não me conformo qdo não consigo ajudar as pessoas. Não concordo em dar dinheiro, mas instrução, carinho, cuidado, zelo... é obrigação de todos. Pra isso basta praticar um simples exercício: Pôr-se no lugar do outro. É fácil apontar, criticar! Qdo se percebe o problema e sabe-se que a solução está na boa vontade de todos, e no entanto poucos o fazem, perde-se o sono tranquilo, acaba-se a paz. Torna-se mais fácil ignorar, e por conta disso o mundo não evolui!
Bjs!!!
Amo vc!
Ótimo post!

Paulo disse...

Dani,
seu texto me tirou uma lágrima, não sei se de tristeza, ou de vergonha, ou de revolta, não sei.
Amei esse post!
Beijos!